Quando, em maio de 1968, os estudantes franceses saíram as ruas, armaram-se daquilo que os déspotas jamais poderiam roubar-lhes. Estavam munidos de paixão. Eram puro sentimento, entricheirados em literatura e disparando poesias. Repetiam com ênfase aquilo que outrora lhes disse Che Guevara, "não se pode deter a primavera mesmo matando uma, duas ou três rosas". Assassinado em 1967, na aldeia de La Higuera, Che já imaginava a incapacidade das forças conservadoras de se enraizarem no poder. Mesmo hoje, na dita pós-modernidade, a história permanece sendo escrita pelas mãos calejadas dos trabalhadores e as flores continuam vivas; talvez, só precisem ser regadas.
Em 1968, a França vinha de uma derrota durante a Segunda Guerra Mundial e os Estados Unidos estava cada vez mais afundado na Guerra do Vietinã. A todo instante surgiam movimentos reivindicatórios, os quais pressionavam as autoridades e exigiam o cumprimento dos direitos civis em todos os cantos do mundo. No Brasil, o AI-5 apontava para aquilo que seria o período de maior repressão durante a ditadura militar.
Pichações, barricadas, confrontos com a polícia; era preciso adotar qualquer forma de intervir na realidade. Sentia-se a urgência de inscrever seu próprio nome na história, grafar o livro dos dias com o vermelho do amor; em uma revolução política, mas, acima de tudo, pessoal.
Assim como ocorre no dias de hoje, os meios de comunicação da época diziam que a luta de classes era coisa do passado. A visível ascenção econômica dos EUA no pós-guerra reforçava a vitória do mercado, marginalizando qualquer movimento de caráter público e coletivo. A elite francesa gabava-se de melhores condições de vida, já que a indústria deste país desenvolvia-se com muita rapidez, principalmente após a Segunda Guerra Mundial.
No entanto, o progresso da indústria representava também o fortalecimento do operariado, cada vez em maior número e sindicalizado. Enquanto a França desenvolvia-se economicamente, a classe trabalhadora continuava submetida a uma série de explorações. O descontentamento com o governo era evidente e a consciência de classe emergia entre trabalhadores e estudantes. Nos primeiros meses de 1968 os confrontos entre a polícia e o movimento estudantil eram constantes. O fechamento de algumas universidades fazia parte da política conservadora e autoritária do general Charles De Gaulle, que estava no poder desde o início da década de 1960.
Greve geral
Na greve geral, do dia 13 de maio, mais de um milhão de pessoas sairam às ruas. Os insurgentes mostravam-se dispostos a tudo para modificar as condições política e econômica do país. A luta de classes se apresentava de forma singular. Era um movimento híbrido, responsável por aglutinar trabalhadores e estudantes, dando coesão às mobilizações. Todo tipo de profissional se convertia em uma única classe de explorados.
Porém, ainda no mês de junho, os capitalistas fizeram uma proposta aos dirigentes sindicais. Os salários aumentaram e foram asseguradas outras conquistas para cada categoria. Aos poucos os trabalhadores abandoram a greve e retornaram aos postos de trabalho. Se esta história acabasse assim, o final seria um pouco frustrante, mas os resultados desta revolução permanecem presentes até os dias de hoje.Jamais a classe patronal francesa poderia imaginar que, um dia, aconteceria uma sublevação como a de maio de 1968. O país estava em pleno auge econômico, passava por um crescente processo de industrialização. Os trabalhadores franceses eram vistos como uma massa alienada e americanizada, ou seja, incapaz de pensar por si só. Mas, mesmo nesse contexto, a faísca do movimento estudanil tranformou-se em labareda e, esta, por sua vez, incendiou ruas e fábricas. O mundo esteve em chamas e jamais poderia ser o mesmo. Os corações revolucionários batiam esperançosos de que, superadas as condições de submissão ao capital, descobriria-se o quanto o ser humano pode ser criativo, revolucionário e apaixonado pela simples condição de viver intensamente. Esta história continua (...)
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